"Muitas vezes, os filhos parecem ser a extensão narcísica dos pais", aponta a psicóloga e psicanalista Elizabeth Brandão, de São Paulo, professora do curso de psicologia da PUC-SP. Isso quer dizer que a criança não irá complementar a sua vida, muito menos compensá-la. Ela terá uma vida dela, com suas próprias dificuldades e conquistas.
Pressionada para que seja uma versão melhorada de você, a criança irá falhar e, pior, perceberá esse fracasso como uma espécie de decepção para os pais. Por isso, desde cedo, procure dar espaço para a diferença de gostos e de objetivos em sua família. Nunca perca de vista que criar um filho é acompanhar o desenvolvimento da vida de outro ser humano e auxiliá-lo nessa trajetória, e não moldar alguém ao seu gosto.
Converse com seu filho de coração aberto!
Isso quer dizer que pais, em vez de se colocarem num pedestal, como se tudo já soubessem e nada temessem, talvez possam se humanizar mais e, na troca de experiências, desenvolver um vínculo real com seus filhos. Por exemplo, por que esconder da criança que houve um contratempo em seu dia? Se for algo que possa ser compreendido por ela, vale a pena dividir. Assim ela saberá que tropeços acontecem na vida de todos, até daqueles que ela mais admira, e não apenas na dela, e se sentirá, dessa forma, mais segura.
Quando sente que é ouvida pelos pais, a criança também se valoriza mais e vai firmando a sua própria voz. Um estudo realizado na Suíça em 2007/2008 mostrou, por exemplo, que crianças ouvidas em casa tendem a tirar notas mais altas na escola.
Dê limites, um ato de amor!
Se comêssemos brigadeiro todos os dias, ele teria o mesmo gosto? Provavelmente não. A partir desse raciocínio básico, avalie se tem deixado espaço para seu filho desejar coisas que não tem - não apenas coisas materiais, mas também aquilo que ele conquistará com o tempo, construindo sua identidade no mundo: mais liberdade para ir e vir e maior poder de decisão.
O sentimento de falta tem a grande vantagem de nos empurrar em direção a conquistas, como ressalta o psicoterapeuta Luiz Carlos Prado: "A falta nos movimenta. Vamos atrás daquilo que não temos. Não é à toa ouvirmos falar de pessoas que partiram do nada e alcançaram muita coisa". Na mesma linha, o psicanalista Durval Checchinato reforça: "É bom lembrar que não há desejo sem falta nem saudade. Quanto mais propiciarmos que nossos filhos encarem essa realidade estrutural, mais os ajudaremos e os prepararemos para a vida". Assim, não projete em seu filho a possibilidade de ter tudo, e nem procure dar a ele tudo que puder como forma de compensar outras faltas que você não possa controlar. Curvando-se a todas as suas vontades e temendo que ele se revolte diante do menor dos nãos, você o prejudica muito mais do que se deixá-lo chateado vez ou outra ao negar um pedido ou repreendê-lo devido a um comportamento inadequado.
"Nada mais prejudica um filho ou o infantiliza do que o superproteger, mimá-lo ou poupá-lo do real da vida", explica Checchinato. "A criança precisa desde cedo ser ensinada a enfrentar esse real e ser conscientizada de que frustrações fazem parte do viver. Apoiada e incentivada pelos pais, ela se habitua a superar obstáculos e a vencer etapas. Autoconfiança é uma virtude que ela conquistará passo a passo, pois não vem de fora".
Transmita noções de hierarquia e de respeito ao próximo!
Mas, sim, ter consciência de como essas pessoas são importantes em sua vida e, por isso, valorizá-las. É fundamental, por exemplo, que a criança perceba que aprende com seu professor e se sinta grata por isso.
O respeito ao próximo também se aplica, é claro, a coleguinhas de sua mesma idade e de outras pessoas de sua convivência, inclusive aquelas que trabalham em sua casa, como a babá e a empregada.
Para os pais, a missão é deixar claro para a criança, de maneira natural, que ela não conseguiria viver sozinha. "Desde sempre os pais podem transmitir à criança que nada somos sem o outro. Em tudo dependemos do outro: na concepção, na gestação, no nascimento, nos cuidados com a criança, no amor, no carinho, na alimentação, na higiene...", sugere o psicanalista Durval Checchinato.
Outra dica para os pais é chamar a atenção da criança, no dia a dia, para os sentimentos alheios, ajudando-a, assim, a desenvolver a empatia e a compaixão. Um estudo recente do Instituto Nacional de Saúde Mental, nos Estados Unidos, mostrou que crianças se tornam mais empáticas quando, após agredirem ou ofenderem um coleguinha, são confrontadas com observações como "Olha só, ele está chorando porque doeu" ou "Ele ficou triste, por que você não pede desculpas?".
Nenhum comentário:
Postar um comentário